hetero-abertura

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O tempo. Porquê o tempo, que Dali "retratou" num óleo imortal?
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Porque o tempo parece ser, para já, a palavra-chave da abertura deste diário.
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Porque é o tempo vivido por cada pessoa individual e singular aquilo que fica duma existência humana, como testemunho e como legado.
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Porque é o tempo que dá experiência, maturidade, senso - e, porque não, sabedoria? - para se questionar, pensar e concluir tudo aquilo que, embora talvez visto por outros, cada par de olhos, identificado e personalizado, tem para dar a ver aos outros - aos outros no espaço, que são o outrem, e aos outros no tempo, que são o vindouro. O que se viu e não deve deixar de dar-se a ver.
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Porque é o tempo que constitui aquele tesouro diferenciador dos indivíduos de cada espécie - o tempo que uns gastam e outros aproveitam, o tempo que a uns desgasta e a outros enriquece, o tempo que para uns é ócio e para outros dádiva.
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Porque é o tempo aquilo por que se luta muitas vezes - pelo tempo que os outros perderam, pelo que contam, pelo que não podem voltar a perder, pelo que têm de aprender a não perder de novo, pelo que esperam ou receiam, pelo que no tempo deles preocupa o nosso tempo, quantas vezes em tempo inteiro.
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Porque é o tempo, afinal, o que mais merecemos usufruir valorizando, valorizar usufruindo.
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E é isto: esta abertura, por ser uma simples hetero-abertura, é um convite e um pedido - o de nos dispensares as sobras do teu tempo, dando-nos a essência do tempo que foi e é o teu.
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Boas prosas!